...O purgatório do Boca do Inferno...

Mistérios gregorianos
20.10.96

Desde sua morte, há prováveis 300 anos, até os dias de hoje, a pessoa e a poesia de Gregório de Matos são objeto de uma polêmica ininterrupta Gregório de Matos e Guerra, cujo tricentenário da morte ocorre provavelmente no presente ano, é geralmente considerado a figura literária mais relevante do Brasil colonial. Ainda assim, o Boca do Inferno encontra-se há cerca de 150 anos num purgatório crítico, depois de ter passado outros tantos numa espécie de limbo. Tão ou mais célebre do que o satirista barroco é a ininterrupta polêmica que, por século e meio, mas, de certa forma, há já, pelo menos, três séculos, tem posto em questão tudo que diz respeito à sua pessoa, obra, reputação, época etc.

Nascido em Salvador, talvez em 1636, ou seja, há 360 anos, ele teria estudado na Bahia e em Portugal (Coimbra), e vivido dos dois lados do Atlântico, numa trajetória que incluiria um exílio em Angola, algo que, segundo a lenda, decorreria de uma reação de autoridades ofendidas pela virulência de suas sátiras. Julga-se que, já de retorno ao Brasil, teria morrido no Recife em 1696 ou 1695 (a segunda hipótese é defendida pelo historiador Fernando da Rocha Peres em texto nesta página).

A primeira "biografia" foi escrita um século depois. Acerca de sua vida há, portanto, pouquíssimos fatos, bastante conjetura e muito mais ignorância.

Os mistérios que cercam sua obra são ainda maiores, pois, enquanto vivia o provável autor, seus poemas — jamais recolhidos por ele mesmo num volume autógrafo — circularam em folhas soltas, copiados e recopiados à mão, e seu texto se alterava de versão em versão. Como discutir então suas intenções originais? Virtualmente "desaparecida" depois de sua morte, a obra volta realmente a circular aos poucos apenas em 1850. E, embora o poeta já tivesse sido atacado em vida enquanto imitador, foi só com a publicação de meados do século passado que principiou de verdade a "questão gregoriana".

Como se poderia esperar, essa polêmica dizia amiúde menos respeito ao poeta ou aos poemas do que às preocupações dos polemistas e de seu tempo. Num primeiro momento, que cobre cerca de cem anos, há sem dúvida textos sérios, mas o que se discute em geral é menos a qualidade dos textos, seu contexto histórico e outras tantas coisas do gênero, do que seu "caráter":

Gregório é autor original ou mero plagiário? Trata-se de um grande poeta que torna grande a poesia brasileira desde seus primórdios ou será ele, alternativamente, um português ou um mulato sem relevância. Ufanemo-nos dele e do nosso país ou não?

A mudança qualitativa da querela vem na segunda metade dos anos 40, primeiro com a publicação, por parte de Segismundo Spina, de uma antologia comentada e prefaciada por um minucioso estudo favorável ao poeta, tudo isso realizado segundo critérios de discussão mais congeniais aos dias que correm. Em seguida, a posição contrária também se renova por meio de alguns estudos de Paulo Rónai, que não tanto repete os velhos argumentos quanto os modifica ao repô-los em bases filológicas e estilísticas mais seguras.

Uma observação contundente, porém, que João Carlos Teixeira Gomes faz em seu "Gregório de Matos - O Boca-de-Brasa", é a de que nem uma vez sequer usa Rónai, para se referir ao poeta, o termo "barroco". Pode-se argumentar que o crítico húngaro formou-se num país e num período quando esse nome era sinônimo de decadência não só literária, mas social, econômica, nacional. Isso talvez ajude a explicar a posição de Rónai que, defensor de primeira hora de Drummond e de Guimarães Rosa, não pode ser qualificado de literato conservador.

Em todo caso, a omissão de Rónai demarca o signo sob o qual a polêmica viria a continuar e segue se travando: o da importância do barroco. A reavaliação do barroco, efetuada sobretudo nos anos 20, por gente como T.S. Eliot na Inglaterra, García Lorca na Espanha e Walter Benjamin na Alemanha, foi mais do que uma discussão meramente erudita e resumia, à sua maneira, muitos dos pontos programáticos do modernismo internacional. A partir dos anos 50, a "questão gregoriana" que inicialmente pouco tinha a ver com isso tudo, revestiu-se também desse significado que no Brasil parece agora ser o central. Esse é seguramente o tema principal do estudo de Haroldo de Campos, como se pode ver até mesmo em seu título —"O Sequestro do Barroco".

Ser hoje contra ou a favor de Gregório implica principalmente tomar partido num debate sobre o barroco, seu significado e sua relevância para a literatura moderna. É claro que há outras discussões paralelas como, segundo o gosto de nosso tempo, sobre o sentido político da obra de Gregório, se suas sátiras são, de acordo com os padrões de sua época ou da nossa, anticolonialistas, progressistas, talvez revolucionárias, ou conformistas, reacionárias e mesmo racistas. É justo que estas e outras questões sejam esmiuçadas e é provável que encontrem tão pouca resolução, ou pelo menos consenso, quanto as mais antigas. Para todos os efeitos, quanto mais "sub judice", mais presente a obra contestada de Gregório se torna na literatura brasileira, embora sua presença se configure sob a forma do paradoxo —provavelmente perpétuo. Original e revolucionário.

Alheira de Mirandela > História

A Alheira surgiu nos finais do século XV ( Casa da Cultura do Conselho de Mirandela).
Teve como causa próxima do seu aparecimento uma acção político-económica do rei D. Manuel definida pela expulsão dos judeus do país (Martins, 1983; Fernandes, 1986; Casa da Cultura do Concelho de Mirandela 1988).
Que os judeus ricos ficassem na sua Pátria, e mesmo praticando a lei de Moisés, que o fizessem. Desde que, claro está, pagassem as volumosas contribuições para o caso expressamente estabelecidos e que assim os discriminavam ( Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
A isto muitos se sujeitaram, quer por interesse, quer mesmo por amor á terra que os vira nascer, se bem que outros menos conformistas, e ainda que vendo-se espoliados de substancial naco dos seus bens se fossem de abalada para as terras da Itália, da França e da Flandres, levando consigo apenas sobras do estorpulado mas toda a sua rica cultura (Casa da Cultura de Mirandela, 1988).
Mas e os pobres? E os Judeus pobres também os havia? Sem posses para pagar nem para tentar mudança de vida na estranja, outro remédio não tinham senão deixar encharcar a cabeça com as águas do Baptismo, aprender o Credo e o Padre-Nosso e reverentemente passarem a recitá-los, a maior parte das vezes com duvidosa convicção, nas sombrias naves das Igrjas Cristãs. E assim nasceram os Cristãos Novos( Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
Mas, ou porque sentissem de perto o frio do cárcere ou o calor das chamas do Santo Ofício, aos poucos, com os seus familiares e teres, e foram os pobres filhos de Israel escapulindo de cidades e vilas, buscando a segurança e calma que o frio torna em solidão, em terras para além do Marão (Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
Não paravam, no entanto, os esbirros da Inquisição que infiltrando-se nos quais pequenos e distantes lugarejos transmontanos, secretamente procuravam saber quem não trabalhava ao Sábado, quem não comia peixe sem escama nem carne de porco (Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
Muitos Judeus houve que descobriram no fabrico das alheiras uma forma de enganar os perseguidores ( Martins, 1983; Fernandes, 1986; Conceição, 1995).
Começaram a aparecer no cimo das confortantes braseiras que amenizavam o rigor das invernias daquelas frígidas terras, uns doirados e roliços enchidos, parecendo ressumar farta gordura de cervo recentemente abatido, que, por entre ténues cortinas de fumaça se enfileiravam em ar de abastança (Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988 ).
E os políticos e delatores miravam a luzidia comida, tocavam a sua untuosidade, e acabavam muitas vezes por se empanturrar de comum com os visitado, por entre nacos de pão centeio e camadas de vinho da última colheita, assim terminado por concluir que homem que come daquele enchido de porco, Judeu não é mas Cristão e dos bons(Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
Os perseguidos Cristão Novos em lugar de meter na tripa seca a carne do animal que a lei mosaica vedava, antes usavam a gorda galinha criada no seu terreiro, o fugidio coelho do mato, a anafada perdiz, tudo amassado no grosseiro mas gostoso pão da região, servindo de excipiente doirado azeite de vestutas Oliveiras e de condimento agressivo do alho Silvestre (Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
Mas os tempos passaram. E a alheira foi-se metamorfoseando. E venceu o porco. (Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).
A verdade é que com o decorrer dos tempos foi este animal quem melhor sabor começou a fornecer a este alimento (Martins, 1983; Fernandes, 1986; Conceição,1995).

Assim, hoje a alheira é um enchido essencialmente confeccionado com carne de cevado, nado e carinhosa mas interesseiramente criado no âmbito doméstico (casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).

Realmente a alheira é rigidamente um manjar transmontano e no paladar apenas difere um pouco de casa para casa, de família para família que lhe fica vizinha, donde a estimulante competitividade que leva convicta e vigorosamente a afirmar sempre que a “minha alheira é melhor do que a tua” (Casa da Cultura do Concelho de Mirandela, 1988).

O costume alastrou por toda a região e a fama das alheiras tornou-se conhecida em todo o país, e os pedidos deste produto passaram a ser muitos. As populações transmontanas, para os satisfazerem, traziam as alheiras á estação do comboio mais próxima, que era Mirandela.

Deste modo, as alheiras que chegavam a todo o país tornaram-se famosas e passaram a ser conhecidas como Alheira de Mirandela .

O espírito empreendedor das gentes de Mirandela levou a que o fabrico e a comercialização da alheira se desenvolvesse em torno da sua cidade, mantendo reservado o seu saber fazer local.

As matérias-primas utilizadas na sua confecção e o processo de fabrico muito próprio, que inclui a tradicional fumagem com a lenha seca e compacta das árvores que se desenvolvem nas particulares condições endafo-climáticas da região, conferem á Alheira de Mirandela características organolépticas únicas.
A notoriedade, consequência das características únicas e muito apreciadas da Alheira de Mirandela , fez com que este produto atingisse a reputação de que goza hoje em dia. E também porque são de facto as Alheiras de Mirandela que continuam a fazer perdurar o sabor original deste enchido.
In:ACIM

...Lendas do concelho de Mirandela ...

"São várias as lendas que existem no concelho de Mirandela, perdendo-se no tempo, esquecendo-se com as gerações que vão passando, já que elas são quase todas orais, e, muitas ainda não estão registadas. O Abade de Baçal refere, no seu volume n.° IX das Memórias Arqueológico Históricas do distrito de Bragança, p. 495 e seguintes, uma listagem de lendas que ele teve conhecimento. Sem pretendermos ser exaustivos, mas apenas enumerando algumas, indicaremos outras mais em pormenor, na esperança de que, com o tempo, se vá fazendo a recolha do que ainda se conseguir fazer."

No termo das Aguieiras há uma lenda de moura encantada e de tesouros nos sítios chamados Pipéla Rigueirais e Fraga da Moura.

Na Bouça sítio de Muralha há buracos nas fragas em duas filas onde, segundo o povo, os mouros espetavam as bandeiras.

Em Cabanelas a lenda das duas panelas, uma de dinheiro e outra de peste.
Na Freixeda, no Murinho, há uma galeria comprida, por onde cabe um homem de pé e no extremo escadas para descer para outra ou para um poço mais fundo. Dizem que esta galeria dá volta ao Cabeço e, no alto deste apareceram pias com muito dinheiro, das quais ainda se conhecia o sítio onde estavam.
Nesta freguesia, e no sítio do Salto perigoso, diziam andar uma cabra encantada, pulando de umas fragas para outras.

Em Romeu, na Horta de N.ª Sr.ª, no Lugar de Vale de Couço, diz se que fora ali que aparecera a imagem de N.ª Sr.ª de Jerusalém de Romeu, onde lhe erigiram uma Capela. Mas Ela, de noite, fugiu para o local da aparição, até que, por último, tantas vezes a levaram que lá se resignou a ficar na Capela.

Igualmente em Santa Bárbara, Vale de Prados de Ledra, apareceu a Senhora, que o povo levou para as Múrias. Mas de noite fugia para as ruínas, até que, tantas vezes a levaram que, por último, lá ficou.

Lenda de Abreiro:
No termo de Abreiro há um local com vestígios de civilização neolítica, a que chamam de Arcã. Na povoação está um elegante Cruzeiro com o brasão de armas de Diogo de Mendonça Corte Real, ministro de D. João V, que foi quem mandou fazer a ponte de Abreiro sobre o Tua, formada por dois arcos, um de grandes proporções. Então diz a lenda local que a ponte, a arcã e o cruzeiro foram construídas de noite pelo diabo, que prometeu também fazer uma estrada da ponte à povoação a troco da alma que uma moça lhe entregaria para mais comodamente passar o rio, a fim de ir buscar água a uma fonte na margem esquerda. Conforme o acordo dizia, o diabo dava a ponte concluída numa só noite e antes de cantar o galo. Quanto mais intensamente trabalhava uma legião de demónios, carregando, aparelhando e assentando pedras, o galo canta.
-Que galo é? perguntou o rei das trevas infernais.
-Galo branco responderam lhe.
-Ande o canto ordenou ele.
Em breve novo cantar do galo se ouviu.
-Que galo é? perguntou de novo.
-Galo preto.
Pico quedo vociferou ele.
Faltava apenas uma pedra para assentar nas guardas da ponte e assim ficou, pois que, por mais vezes que os homens a tenham colocado no lugar, aparece derrubada pelo diabo no rio na noite seguinte.

Lenda de Aguieiras:
Em Aguieiras há um grande fraguedo onde assenta a Capela de Nossa Senhora dos Montes. Diz o povo que um homem da terra sonhou que havia lá um tesouro.
Foi procurá lo.
Mas aparece lhe o diabo que lhe promete dar lho se ele lhe desse a alma em troca.
Então regressou a casa. No dia seguinte foi lá procurá lo de novo, mas levou um galego que se comprometia a dar a sua em troca de algumas moedas. Só que, quando apareceu o diabo em figura horrenda assustou se e disse:
"Valga me Dios".
Imediatamente desapareceu o diabo e o tesouro que os homens já tinham colocado à vista.
Os homens saíram a "pés de cavalo", isto é, com a velocidade máxima que puderam.

Lenda da Fonte do Bispo:
Em São Salvador existe uma fonte com o Nome da Fonte do Bispo.
Foi aberta, segunda a lenda, com uma bengala do Bispo de Bragança, falecido naquela localidade em 1819, D. António da Veiga Cabral e Câmara. Como a fonte tem virtudes curativas extraordinárias em várias doenças, o povo atribui as à bênção especial que o bispo lhe lançou (considerado santo na terra). E, ainda em meados do século XX em grandes secas (falta de chuvas), ou nas grandes chuvadas, quando há crises agrícolas, o povo de S. Salvador recorre à intercessão do Santo (Bispo), atribuindo lhe a bênção dos frutos nas abundantes colheitas.

Lenda da Flor que nasceu na Lama:
No volume I de "Lendas de Portugal" de Gentil Marques, página 383 e seguintes vem registada em pormenor uma lenda que mostra a origem do nome de Lamas de Orelhão, freguesia de Mirandela, como vimos.
Diz o seguinte resumidamente:
Havia dois irmãos, um rapaz e uma rapariga que viviam em Trás-os-Montes, mas que ninguém sabia donde tinham nascido. Ela era jovem e bonita. Ele mais velho mas com muita sabedoria que deixava as pessoas embaraçadas. O passatempo preferido deles era andar pelos campos falando das coisas do Céu e namorando as coisas da Terra. O Rei Mouro que governava aquelas paragens quis conhecê-los e foi ao encontro deles sem se aperceberem. Trocaram palavras, ficando ela a desconfiar desse Cavaleiro que lhe dirigia elogios, mas que não gostava que lhe falassem em Deus. Ele ficou a saber que os dois irmãos o tinham por tirano (ao Rei Mouro), porque `foi por ordem desse tirano que mataram nossos pais" diz o irmão. O cavaleiro deixou os mas não se afastara dali. E, em plena noite raptou a moça "que era tão bonita, tão fresca, que faz entoitecer o coração de qualquer homem", como dizia o cavaleiro. Este levou a até uma pequena comba convencido de que ali ficava em segurança. Só que, de repente, não consegue ver a linda jovem e amaldiçoa a feitiçaria, gritando alto. Quando o irmão acordou ficou aflito, e foi à procura da irmã. Pelos gritos deu com o cavaleiro no fundo da pequena comba. Lutaram os dois tendo o cristão descoberto que o cavaleiro era o próprio rei mouro. Este levava a melhor e, nesse momento, aparece a irmã. O irmão acabou de morrer ali mesmo.O rei avançou para a jovem, enraivecido. Só que ela diz lhe "Nem mais um passo"... " Se derdes um passo mais... ficareis atolado nesse lodo que está em vossa frente ". Era lodo o que o rodeava. Mesmo assim consegue decapitar a moça cristã... Depois, para esconder o crime que cometera afogou nesse lodo o corpo decapitado da jovem e o cadáver do o irmão. Convencido de que ninguém descobriria o crime, desapareceu. Só que alguém assistira à cena, pois no dia seguinte, gente que foi ao lameiro para recolher os corpos, viu que no lodo nascera uma flor lindíssima, viçosa e pura... A notícia espalha se de terra em terra, e, como se tinha passado numa pequena comba perto de uma terra que se chamava Orelhão, naquele sítio passou a ser conhecido por Santa Comba das Lamas de Orelhão. O povo encarregou se de santificar a jovem que morreu sacrificada às mãos bárbaras e sanguinárias do rei mouro.

Lenda de Lamas de Orelhão: Na obra do Abade de Baçal, Vol. IX p. 448, vem esta lenda que tem certas semelhanças com a anterior: "E desta vila eram naturais S. Leonardo e Santa Comba de gente lavradora e pobre, que andavam no monte guardando o gado de seus pais. O Rei mouro que se chamava Orelhão quis entender com a moça. Eles foram fugindo até onde está um penhasco alto e a santa se meteu pela fraga e ali escapou, que milagrosamente lhe abriu a passagem para dentro. E dizem lhe tiraram as tripas, coração e as botaram a uni poço que está logo por baixo do penhasco, o qual nunca seca apesar de estar no alto da serra. E da parte de fora do cabeço está outra capela da invocação de S. Leonardo, que dizem ser aqui martirizado. Aqui acodem muitas povoações em procissão de vários povos a pedirem água aos santos e tudo Deus lhe concede por sua intervenção. A esta parte lhe chamam agora a Serra do Rei Orelhão e em um cabeço que está para sul da Capela dos santos está o refúgio onde morava o rei mouro".

Lenda da Torre de D. Chama:
Segundo a lenda, o topónimo Torre de D. Chama terá vindo "pela Torre que nela havia no Castelo e que por isso se chamou Torre. E acrescentara-se Dona Chama porque era a vila e a Torre de uma grande Senhora gentia, no tempo em que os mouros residiam nestas terras, chamada Dona Chamorra. Sendo inclinada ilicitamente aos cristãos mandava chamar aqueles de melhor perfeição e os metia na torre para satisfazer o seu apetite. Para que a não fossem descobrir não tornavam mais a sair por lhe fazer ir conhecer o mundo da verdade. Sucedendo ir um mais avisado diz se que satisfizera o seu apetite e adormecera se acostada a ele. Como a sentisse dormindo se retirou como pode levando lhe um anel que lhe tirara do dedo, coisa de grande valor, e bem conhecido dos criados (o dito anel). E o levara no dedo para sinal que a Dona Chamorra lhe dera para assim os enganar para que o deixassem passar as guardas, o que passou. Estando já livre, Dona Chamorra despertara, acudiu mandando o chamar para que voltasse ali que a "Dona Chama". Pensando que ele a descobrira matou se a si mesma". Daí se chamar a Torre de Dona Chamorra, passou a chamar se a Torre da Dona (que) Chama".
(Abade de Baçal, Memórias Arqueológicas..., vol. X, p. 265.)Professor Virgílio Tavares/2001 Mestre em História Moderna e Contemporânea.
Ficou a lira popular:
D. Chama chamorraPernas de cabraCara de senhora...In III volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses, coordenado por Barroso da Fonte, 656 páginas, Capa dura, Editora Cidade Berço, Apartado 108 4801-910 Guimarães - Tel/Fax: 253 412 319, e-mail: ecb@mail.pt
Na obra Memórias Arqueológico-Históricas do Abade de Baçal, Tomo IX, é referenciada além daquelas, a seguinte lenda:Mascarenhas/Vale Pereiro – Junto à povoação de Vale Pereiro, freguesia de Mascarenhas, concelho de Mirandela, no cume de um cabeço, «donde se descobrem muitos horizontes pela sua grande eminência», está situada a Capela de Nossa Senhora do Viso por nele haver uma capela desta invocação, «cercada de muros e barbacão a modo de fortaleza». «Este nome de Viso é o mesmo que vigia, e atalaia, de onde se descobrem os campos, e se vigiam os inimigos, para rebater as suas entradas e assaltos». Em volta da capela, coisa de vinte passos de distância, vêem-se restos de fortificações antigas - «muros; e reparos a barbacans», diz o Santuário Mariano, a quem vamos seguindo, «em tal forma, que parece uma fortaleza inexpugnável.
Diz a «tradição que a Senhora aparecera a um pastorinho, e lhe mandara dizer aos moradores daquela terra, que lhe edificassem sobre o alto daquele monte uma ermida, e que em sinal de que esta embaixada era sua, e em crédito dela, que naquele mesmo lugar em que se lhe manifestava, arrebantaria uma fonte de água, e desta ainda hoje se vêm vestígios e sinais, já a água desapareceu.

Lenda de Mirandela – João Domingos Gomes Sanches, na sua obra «Serra dos Passos» fala, entre outras, na lenda que deu origem a Mirandela.
O Rei de Orelhão, que tinha uma orelha de burro e outra de cão e era o senhor das terras da bacia que hoje tem o nome Orelhão e Lila, vivia no castelo de Orelhão. Apaixonara-se por uma princesa que vivia na Serra dos Passos e tentara seduzi-la. Mas a princesa não respondia favoravelmente aos propósitos do rei.

Um dia a princesa fugiu do castelo em direcção ao rio Tua. O Rei começou a buscá-la mas tinha medo de descer ao vale. Algures nos píncaros da Serra, triste e cansado, olhava o horizonte.Um vassalo perguntou: que tendes Alteza?- Estou à mira dela! – respondeu com voz triste.Desta expressão nasceu a palavra Mirandela e diz o povo que quem Mirandela mirou nela ficou. Afirmam ainda que a Princesa do Tua ao fugir do Rei de Orelhão deixou a sua coroa na Serra dos Passos.

In:C.M.M

...Lenda do Galo de Barcelos...

A lenda do Galo de Barcelos narra a intervenção milagrosa de um galo morto na prova da inocência de um homem erradamente acusado. Está associada ao cruzeiro seiscentista que faz parte do espólio do Museu Arqueológico, situado no Paço dos Condes de Barcelos.
Segundo a lenda, os habitantes de Barcelos andavam alarmados com um crime, do qual ainda não se tinha descoberto o criminoso que o cometera. Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo, apesar dos seus juramentos de inocência, que estava apenas de passagem em peregrinação a Santiago de Compostela, em cumprimento duma promessa.
Condenado à forca, o homem pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou: "É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem."
O juiz empurrou o prato para o lado e ignorou o apelo, mas quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Compreendendo o seu erro, o juiz correu para a forca e descobriu que o galego se salvara graças a um nó mal feito. O homem foi imediatamente solto e mandado em paz.
Alguns anos mais tarde, o galego teria voltado a Barcelos para esculpir o Cruzeiro do Senhor do Galo em louvor à Virgem Maria e a São Tiago, monumento que se encontra no Museu Arqueológico de Barcelos.

In:Wikipédia

...Lenda de Viana...

A lenda de Viana é uma tradição oral portuguesa sobre a origem do nome da cidade de Viana do Castelo.
Conta a lenda que um barqueiro que transportava mercadorias pelo Rio Lima (alegadamente o antigo Lethes), da foz no Lugar do Átrio ou Adro, até Ponte de Lima, apaixonou-se por uma jovem de personalidade alegre, jeito desempoeirado, e feições helénicas. O nome dado por baptismo à bela rapariga fora de Ana, e toda a gente a conhecia.
O moço não tinha olhos para mais ninguém, passava o tempo a falar da Ana enquanto carregava e descarregava as mercadorias. Umas vezes perguntava: "Viram a Ana?" E a resposta: "Sim, Vi a Ana". Outras vezes era ele que de feliz afirmava: "Hoje vi a Ana, vi a Ana!" Tantas vezes repetida, a expressão: «Viaana» provavelmente deu origem a «Viana».
Apesar de se tratar simplesmente de uma lenda, em 1258 o rei D. Afonso III de Portugal, ao conceder o foral a este povoado, proclamou: «Quero fazer uma povoação nova no lugar que se chama Átrio, em a foz do rio Lima, à qual povoação (...) imponho o nome de Viana».
Desde essa época nunca deixou de se chamar Viana, foi Viana de Riba do Minho, Viana do Lima, Viana de Caminha, Viana da Foz do Lima e, mais tarde, pelo foral de D. Maria II que a elevou à categoria de cidade, em 1848, tornou-se Viana do Castelo.

In:Wikipédia

...Lenda do Vai-te com o Diabo...

A Lenda do Vai-te com o Diabo é uma tradição oral da ilha Graciosa, no arquipélago dos Açores, sobre os medos e das crenças de um povo supersticioso e ainda muito ligado ao misticismos e ocultismo.
Reza esta lenda que havia uma mulher de poucas posses que vivia na localidade do Guadalupe, que ia casar uma filha dentro de poucos dias. Ultimavam-se os preparativos, cozinhava-se o pão, faziam-se os doces, assavam-se as carnes, preparavam-se as coisas para um casamento feito em casa à moda antiga, como era normal nesses tempos.
Com todos estes afazeres a pobre mulher já tinha gasto mais dinheiro do que as suas parcas posses lhe permitiam. Tendo faltado qualquer ingrediente importante para a boda, a filha foi junto da mãe pedir-lhe mais dinheiro para o ir comprar. Já estava farta de tantos gastos, meio chateada, meio furiosa, a mãe virou-se para a filha e disse: "Vai-te com o diabo, rapariga, que me levas tudo o que tenho!"
Era um desabafo e ninguém prestou atenção a estas palavras. No entanto e como a rapariga nunca mais voltava de ir buscar o ingrediente que tinha ido comprar, começaram a achar estanho e puseram-se à procura dela, não a encontrando nas imediações nem nos caminhos que ela deveria ter percorrido.
Todos os vizinhos da vila do Guadalupe foram alertados e se puseram à procura dela por todos os lados da vila, de casa em casa, no porto, nos chafarizes, em casa do noivo que também participava na busca, nos moinhos, palheiros, em todos os locais possíveis.
Depois da vila, expandiram as buscas para as pastagens e para a serra onde, junto do lugar denominado Caldeirinha, encontraram aquilo que poderia ser os primeiros vestígios. Com a prescritiva de encontrarem a rapariga, desceram rapidamente a perigosa vereda que leva até à entrada arredondada que conduz ao fundo da caldeira, e segundo os habitantes da Graciosa, sabe-se lá mais onde...
Na descida encontraram as galochas da rapariga em cima de uma rocha, fazendo com que todas as dúvidas se dissipassem, se ela não estava ali, pelo menos devia estar por perto. Se não estava em local visível, só podia estar dentro da Caldeirinha. Foram então à vila buscar cordas suficientemente fortes para aguentarem o peso das pessoas, e atando-as à volta da cintura o noivo desceu à procura da sua amada.
Estavam todos ansiosos pois muitos acreditavam que a caldeira poderia ser uma das entradas do Inferno. Cheio de medo, aos poucos o noivo foi descendo pela abertura estrita da caldeira, buraco negro e medonho. Foi lá no fundo que encontrou a rapariga. Esta estava a tremer de medo e com um ar apático. Amarrou-a às cordas que levaram consigo e os dois foram puxados pelas pessoas que tinham ficado foram da caldeira.
Tinham-na encontrado, estava viva e saudável, e podiam retomar o casamento. Quando perguntaram à rapariga o que se tinha passado e como tinha ido ali parar, ela pura e simplesmente não sabia. Foi então que a mãe se recordou da blasfémia que tinha dito ao mandá-la para o diabo. Ele que, acreditam os povos, anda sempre à procura de almas para levar para o Inferno. Não perdeu tempo e a tinha levado logo consigo, escondendo-a nos fundos da Caldeirinha.

In *Wikipédia